sexta-feira, 14 de maio de 2010
SpaceBlooks, segunda noite - Internet e Ficção Científica
Outra meia hora de atraso, mas cheguei à Blooks a tempo de um bate papo informal com os participantes da segunda mesa do evento SpaceBlooks, Ana Cristina Rodrigues, historiadora, escritora e agitadora online, Fábio Fernandes, professor, tradutor, teatrólogo e escritor, dono dos blogs Post Weird Thoughts e Pós Estranho, e Saint-Clair Stockler, escritor e editor das antologias Imaginários I e II. Meu colega, Toinho Castro, entretido com um sanduíche, me afirmou que todos já estavam devidamente orientados a respeito dos temas e dos caminhos a seguir, mas ainda assim reiterei que o ponto a ser focado era a carreira de cada um ligada diretamente à internet. No recinto já havia quórum para começarmos o evento e essa noite mostrava um número maior de autores de gênero na platéia. Gérson Lodi-Ribeiro, que postou um belo relato da noite em seu blog, Max Mallmann e um reincidente Bráulio Tavares, entre outros, orbitavam os stands da livraria envoltos em um agradável burburinho pré-show.
Diferente do primeiro dia, não havia uma mesa enorme para os três convidados, mas um pequeno grupo de mesa e cadeiras ao mesmo nível da platéia, o que tornava o clima mais propício a um bate papo e liberava a livraria para que o público incidental circulasse pelas gôndolas. Munido de uma câmera digital emprestada por meu filho para a ocasião, dei início aos trabalhos da noite, apresentando os debatedores e reforçando a ligação de cada um com novas mídias e a internet em particular. Ana Cristina recebeu o microfone e desfiou suas aventuras como escritora submersa na rede full time, com blogs, Twitter, Orkut, Facebook e YouTube, mas que sempre encontra um meio de subir à superfície para lançar um ou dois livros “físicos”, sejam individuais ou antologias de autores diversos, que burilam os textos em oficinas online, como a Fábrica dos Sonhos, gerenciada por ela.
A platéia, dividida entre novatos, fãs e autores da Ficção Científica brasileira (ou, melhor dizendo, carioca) interrompeu diversas vezes, reiterando o clima benfazejo de conversa informal que era nosso objetivo desde o início. Chamou-me atenção o número de pessoas antenadas com o zeitgeist cyberpunk, trajando coturnos e sobretudos ou exibindo cortes de cabelo moicano, mas, ao contrário da noite anterior, havia pouca gente anotando.
Fábio Fernandes trouxe ao baile a experiência como desbravador dos caminhos cibernéticos e falou com propriedade sobre maneiras de se estabelecer como escritor num mundo onde fronteiras são cada vez mais tênues, seja entre países ou gêneros literários, apontando caminhos hoje mais verossímeis que há vinte anos, como o reconhecimento internacional de autores africanos ou brasileiros não apenas como elementos exóticos, mas como diferentes e válidas visões de um fazer literário. Ferrenho defensor da globalização no consumo da literatura, Fábio afirmou categórico que, em sua opinião, quem não souber ler em outras línguas não pode ter noção do universo contemporâneo de produção.
Depois de muito esperar, Saint-Clair Stockler bateu bola enaltecendo qualidades da internet como celeridade em distribuição e contato, mas defendendo a resistência do livro físico enquanto objeto perfeito para uma leitura prazerosa. Comentou sobre o reconhecimento de seu trabalho pelo prestigioso caderno literário Prosa & Verso, do jornal O Globo, e levantou a bandeira bauhausiana que apregoa que algumas vezes, no que diz respeito a textos de qualidade, “menos é mais”. Também defendeu alguma autonomia do escritor frente aos editores, pois às vezes o autor saberia exatamente que efeito quer causar com a forma de seu texto, e discorreu sobre os processos editoriais das antologias Imaginários, que contam com brasileiros e portugueses.
O público, animado, bombardeou os debatedores com perguntas e trouxeram assuntos dos mais diversos, indo da competição entre Kindle e I-Pad até a possível existência de uma FC brasileira que usasse favelas como cenário e violência urbana. Foram citados diversos livros, tais como Brasyl, de Ian McDonald, e Tempos de Fúria, de Carlos Orsi, além de obras de Jeff Vandermeer, Dan Simmons, Cory Doctorow e Iain M. Banks, entre outros.
Falou-se da dificuldade de se escrever FC num presente com tantas características distópicas e cacotópicas, far future versus near future e construção de um sense of wonder que não ressoasse a pastiche, com personagens de nome anglo saxão e coisas parecidas.
Quem esperava um tipo de competição de agressividades entre Saint-Clair e Ana, decepcionou-se. Ambos comportaram-se de maneira elegante, deixando de lado eventuais divergências pessoais em prol de uma noite proveitosa onde o público foi quem mais lucrou com a experiência dos três. Aliás, que público... além dos já citados, marcaram presença o roteirista Patati, vencedor do prêmio HQ Mix, e Alexandre Mandarino, que foi editor do caderno de informática de O Dia. Também retornaram ao evento os escritores Ricardo França, Rafael Luppi e Rafael Lima.
O papo, bastante positivo, se extendeu noite adentro, até depois do encerramento oficial da segunda noite do SpaceBlooks, com o sorteio de mais um livro, dessa vez O Anjo Exterminador, de Bráulio Tavares, que autografou o volume ali mesmo. Fábio Fernandes e Max Mallmann também distribuíram assinaturas a torto e a direito, pois alguns exemplares de Os Dias da Peste e O Centésimo em Roma foram vendidos no local graças àquela que talvez seja a prateleira sobre Ficção Científica brasileira mais completa, atualizada e variada de todas as livrarias do Rio, com obras de André Carneiro, Christina Lasaitis, Mary Elisabeth Ginway, Gérson Lodi-Ribeiro, Jorge Luis Calife, Ana Cristina Rodrigues e as antologias Imaginários, Steampunk e FC do B.
Cheio de fatos e fotos, retirei-me da Blooks às 22:40 hs, com a certeza que não apenas a segunda noite foi ótima, mas que a terceira noite do SpaceBlooks vai explodir a caldeira.
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5 comentários:
Oi, Octavio,
É uma pena que, mesmo morando no Rio, eu nunca possa comparecer a esses eventos noturnos. Mas não faz mal. Fico torcendo à distância.
Parabéns aos debatedores e muito sucesso à próxima noite de FC na Blooks!
Octavio, muito obrigado mais uma vez pelo convite. Senti-me muito honrado - e, principalmente, muito bem recebido por você, Toinho e Elisa. A Blooks é um espaço ótimo (sempre gostei de lá) e o evento foi nada menos que sensacional.
Não poderei estar presente na semana que vem, mas tenho certeza de que será um sucesso estrondoso com Fausto Fawcett e seus exocets steampunks! :)
Oi, Ana e Fábio.
Eu que agradeço a presença (física ou virtual) de ambos. Ana, se houver um convite para participar como membro de mesa, você aparece? ;-) Olha que temos planos dentro de planos.
Fábio, you rulez, man. A honra foi nossa e a mesa foi ótima. Pena que vc não poderá comparecer na próxima quinta, pois creio que será um mix muito interessante, com Gérson, Lancaster e Fausto Fawcett. A ver vamos.
Octavio e Toínho:
Parabéns a ambos, o Spaceblooks II bombou!
Continuamos a interação informal no Espaço Gourmet. Saímos de lá por volta da meia-noite e a coisa ainda estava bem animada.
Pequena correção: todos os autores portugueses publicados na *Imaginários II* já haviam apresentados ao leitor brasileiro pela saudosa Ano-Luz, na *Como Era Gostosa a Minha Alienígena!* ;-)
Torçamos para que a Spaceblooks III: Steampunk alcance êxito idêntico.
Renovadas congratulações!
Gerson.
Que legal, Gérson! Bom ver que o povo esticou para valer dessa vez. E tenho certeza que o SpaceBlooks 3 - Steampunk será tão legal quanto. Espero pelo relato da noite em seu blog.
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