segunda-feira, 24 de maio de 2010

SpaceBlooks, terceira noite: Steampunk




Se a mesa do segundo dia era potencialmente explosiva, não sabíamos o que esperar do grupo reunido para a terceira noite de SpaceBlooks. Eu e Toinho Castro juntamos um trio que pode ser considerado, no mínimo, um paradoxo díspar: o dinossáurico Gerson Lodi-Ribeiro (que, mais uma vez, escreveu um relato acuradíssimo da noite em seu blog), representando a geração “menos nova” dos autores de FC; Alexandre Lancaster, quadrinista e autor, cheio de idéias muito particulares a respeito do que deve ser feito em termos de popularização do gênero no Brasil, e a incógnita-mor, Fausto Fawcett, que poderia ter se sentido um peixe fora d’água, mas que nadou de braçada tanto no assunto como fora dele.

Gérson abriu os trabalhos explicando de maneira sucinta o que diabos seria steampunk, de onde vem, quais as obras referenciais e, principalmente, o que não é steampunk, homessa! Lancaster, que falou como se o mundo dependesse disso, apresentou dois samples da HQ Expresso, que mescla estilo japonês com texto influenciado pelas dime novels e edisonades dos anos 20, onde garotinhos-gênios salvavam os Estados Unidos semanalmente, pilotando robôs gigantes ou coisas parecidas. Entre uma ou outra diatribe (por exemplo, Lancaster odeia o ator Will Smith com todas as suas forças), mostrou conhecimento de causa e defendeu uma FC “de base”, com o steampunk funcionando de maneira a cooptar leitores mais jovens, transcendendo o universo literário, com a estética influenciando a moda e os costumes.




Fausto Fawcett veio na sequência, proferindo a frase da noite: dentro de todo Jetson existe um Flintstone. Sugerindo que, mais que steam, a FC é StillPunk, por não conseguir se livrar completamente das tendências desconstrutivistas do cyberpunk, Fawcett disparou uma sequência de frases instigantes e bem construídas, quase transformando o bate papo numa performance per se e cortando qualquer vestígio de nerdice panelística. Falou-se de monarquia, de revolução industrial alternativa, de William Gibson, Bruce Sterling, Kim Newman e até, cáspita!, de mim.

Essa talvez tenha sido a mesa onde o conceito de bate papo melhor funcionou, com os debatedores cedendo a palavra uns aos outros e tomando-a de volta eventualmente. Além disso, com certeza foi a mais bem sucedida no quesito “pescaria”, ou seja, aquele efeito que atrai o público incidental que está ali para ver os livros, mas acaba gostando do papo e se aproxima para ouvir um poucochito, coroando o final da SpaceBlooks, que deixou todos com gosto de quero mais e melhores mundos.

Para terminar, gostaria de agradecer à Elisa Ventura e a toda a equipe da Blooks, que funcionou como um relógio do século XXX, sempre a postos, com precisão e profissionalismo, mas principalmente vai aqui um afetuoso “muito obrigado” a Toinho Castro, que me contatou há meses, convidando a participar desse projeto sensacional. Valeu, cara, estou em dívida contigo. ;-)

E que venham outras jornadas.

Nenhum comentário: