quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

10 anos em quadrinhos

Não são definitivas, não são basilares e também não são indiscutíveis. Mas são as 10 histórias em quadrinhos que mais me inspiraram na última década

Hora de rever o que mais me agradou/impressionou/influenciou nos últimos dez anos em matéria de Histórias em Quadrinhos. Resolvi escolher apenas dez obras, mesclando one shots e ongoing series, bande desinées, mangás e comics, além de material nacional.

O critério de seleção foi simples: escolher aqueles trabalhos que me deixaram com vontade de fazer algo parecido ou dar continuidade a projetos esquecidos.

Sem mais delongas, as 10 mais do Octavio entre 2001 e 2010.

1) The League of Extraordinary Gentlemen, Alan Moore e Kevin O’Neill

Eles começaram em 1999, mas a série engrenou mesmo com o decorrer da década, sendo que, para mim, seu ponto alto até agora foi o compêndio The Black Dossier, com experimentos narrativos diversos, que incluiam sequências em 3D, pastiches beatniks e até páginas artificialmente envelhecidas. O melhor é que os autores prometem levar adiante o projeto indefinidamente;

2) Battle Royale, Koushun Takami e Masayuki Tagushi

Num futuro próximo, um reality show obriga turmas de colegiais a combaterem até que apenas um sobreviva. Com essa premissa, adaptada de um romance homônimo, os autores criaram uma série opressiva e chocante na qual o traço infantil e a temática adulta, muitas vezes pornográfica, longe de entrarem em conflito, hipnotizam o leitor. Os personagens e seus destinos são tão bem construídos que é impossível largar até a última página.

3) The Long Yesterday, Osmarco Valladão e Manoel Magalhães

O álbum de estréia dos autores é um show de concisão narrativa e simplicidade no traço, sem falar nas cores chapadas, minimalistas e precisas. A mescla de policial noir com viagem no tempo funciona melhor que em sua versão literária original e arrisco dizer que o texto nasceu para ser vertido em mídia visual, o que significa que daria um excelente filme também. Claro que tenho relações afetivas com a obra pelo fato dela pertencer ao universo Intempol, criado por mim, mas isso não tira dela o valor de ter apresentado um artista com estilo completamente diferente de tudo que se via no mercado brasileiro de HQs.


4) Hauteville House, Duval, Gioux, Quet e Beau

Num século XIX alternativo no qual a França foi dominada pelo governo ditatorial de Napoeão III, um bando de guerrilheiros se reúne no subsolo da mansão de Victor Hugo - a Hauteville House do título – para tentar sabotar a mais nova investida do tirano: as ciências ocultas. O agente especial Gavroche é enviado ao México para interceptar um livro perdido que pode levar a um artefato que permitirá à França escravizar, além da Europa, todo o continente americano. Essa série, com sua narrativa inteligente e sóbria, muitas vezes ausente de texto, é uma das influências para meu romance A Mão Que Pune.





 

5) Mesmo Delivery, Rafael Grampá

Outro brasileiro que mostra serviço logo no primeiro trabalho de fôlego. O traço agressivo, com grande influência tanto do art nouveau quanto do expressionismo, sua diagramação radical e falsas inserções publicitárias que ajudam a dar ritmo à história curta e grossa formam um conjunto de indiscutível força dramática. Somos levados a ler as páginas como se interpretássemos cartas de um tarô caótico, carregadas de signos aparentemente aleatórios mas que, em conjunto, fornecem material para várias noites de pesadelo.







6) Planetary, Warren Ellis e John Cassaday

Assim como a League de Moore e O’Neal, essa série de Ellis e Cassaday busca referências em outras produções da cultura pop como revistas pulp, cinema, folhetins, dime novels e seriados de TV para sugerir a existência de uma realidade subjacente a nossos sentidos. Mesmo tendo sido iniciada no crepúsculo dos anos 90, atingiu seu ápice em meados da primeira década do século XXI e, mesmo depois de seu último episódio publicado, Ellis prometeu mais um, o que pode demorar mais uma década.




7) Promethea, Alan Moore, J. H. Williams III e Mick Gray

Outra série de Moore e mais uma que, tendo começado em 1999, cresceu em profundidade e qualidade durante os anos 00. Mesclando cabala e superheróis, com referências à alta e à baixa literatura, além do auxílio luxuoso da arte de Williams III, Moore traça um panorama hermético da produção artística da humanidade, quase criando um catecismo ocultista, que foi bastante criticado por alguns por seu teor “pedagógico”, mas que eu adorei e me inspirou para um artigo.









8) Vinte Mil Léguas Submarinas, Sam Ita,
baseado  na obra de Júlio Verne

No apagar das luzes da década, dei de cara com esse ambicioso projeto de Sam Ita, que visa adaptar obras clássicas da literatura do século XIX em belos livros pop-up com ilustrações que saltam dos quadrinhos em esculturas de papel. Além de se manter o mais fiel possível, Ita dá vida e nova perspectiva a diversas cenas do romance de Verne, que no original são apenas pitorescas. O selvagem eletrocutado na escada no Náutilus é uma delas, mas o que dizer do panorama da Atlântida saltando das páginas numa montanha de recortes que parecem coral? Ou do naufrágio do submarino envolto por um redemoinho de papel? Indispensável em qualquer biblioteca - e assim que tiver algum em caixa, vou correndo comprar a versão dele de Frankenstein.

9) Seven Soldiers of Victory, Grant Morrison e outros

A grande saga de superheróis da década. Detalhista, onanista e multifacetada. Morrison gerencia uma história única por sete séries diferentes, com sete artistas diferentes, e consegue fazer sentido. A overdose de informação pode fritar seus olhos, mas a vontade de juntar as pontas soltas é mais forte e me fez devorar cada edição em busca de respostas para perguntas que nem sabia que estavam lá.














10) Sojourn, Ron Marz e Greg Land

O Senhor dos Anéis encontra a revista Vogue. Essa série injustamente esquecida, publicada pela extinta editora CrossGen, mesclava com raro equilíbrio e alta qualidade artística ação medieval, um vilão bem construído e protagonistas saídos de um mix de filme pornô com desfile de moda. A arte de Land, então em seu auge, transforma o que seria um festival de clichês nas mãos de qualquer outro ilustrador menos apto em uma aventura cheia de contrastes e nuances, onde cada canto de página esconde detalhes que convidam a minutos de apreciação e deslumbre.





***

Claro que outras obras poderiam estar aqui, como Bórgia, de Jodorowsky e Manara, Madman, de Mike Allred, Santô, de Spacca, Grendel - Black, White & Red, de Matt Wagner, ou A Saga de Tio Patinhas, de Don Rosa, mas os 10 que citei foram meu material de inspiração e espero ter dado algumas dicas sobre histórias que nem todo mundo teve (ou tem) oportunidade de conhecer no Brasil.

3 comentários:

FRANK JOSEPH disse...

coollll
suas escolhas nem todas foram lidas por mim. mas pelo menos eu espero uma adaptação de um mesmo delivery a altura ( do que dizem estar fazendo) e o filmfã com o não menos menor Octávio no planetary...

Octavio Aragão disse...

Rá! Interpretar Elijah Snow no cinema é um daqueles projetos de sonho. :-)

Leonardo Peixoto disse...

Eu tenho o livro que inspirou Battle Royale e quase toda A Saga do Tio Patinhas :)
Falando em A Mão que Pune , você conseguiu encontrar uma editora ?