quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Como classificar essa capa, parte 2: Nem e a popificação dos desafetos

O jornal Meia-Hora dá seguimento às caricaturas do traficante Nem, identificando-o hoje com a popular personagem Valéria, interpretada pelo comediante Rodrigo Sant'Anna, num quadro de sucesso do humorístico Zorra Total, da Rede Globo (cujo bordão, por coincidência, é como estou bandida). Não consegui comprar a primeira edição, que esgotou nas primeiras horas do dia, mas aqui está a imagem do site.


O criminoso Nem retratado como a Valéria, de Zorra Total


Creio que poderíamos, para tentar compreender o impacto dessas imagens, fazer um paralelo entre essa série de portrait charges e aquelas produzidas por Thomas Nast para o Harper’s Weekly, em 1871, nas quais denunciava o prefeito William Magear (Boss) Tweed como corrupto.

Boss Tweed. By T. Nast, Harper's Weekly

No caso de Nast, havia uma campanha ideológica visando derrubar um político por intermédio do humor e do deboche. O jornal carioca, numa primeira análise, parece desejar o mesmo efeito, divulgando a foto do criminoso e criando uma gag visual, conforme visto aqui. Porém, será que o Meia-Hora não acaba por criar uma “aura de simpatia” em torno do meliante? Enquanto Nast depreciava Tweed – um político, um representante do poder instituído, não um criminoso assumido – usando o riso como arma, as caricaturas do Meia-Hora, pelo contrário, visam o riso pelo riso, talvez banalizando o fato de que aquele ali retratado é um assassino comprovado.

Será que, como efeito colateral, o tablóide não estaria tornando o criminoso numa celebridade, no bom e velho estilo das dime novels que relatavam as aventuras de Jesse James e Billy The Kid, notórios bandoleiros, ou dos cordéis que louvavam Lampião?

Não há dúvidas que, em termos comerciais, é um acerto, já que a edição esgotou em tempo récorde nas bancas, mas creio que ainda há muito a discutir a respeito desse tipo de opção editorial, além do aspecto econômico.

2 comentários:

Leonardo Peixoto disse...

Depois do termino da série de livros A Mão Que Cria , você pretende se aventurar novamente em ficção alternativa ? Talvez com os amados personagens de Monteiro Lobato ?

Octavio Aragão disse...

Não, Leonardo. Meu próximo romance, depois de A Mão Que Pune – 1890, será Rainha das Estrelas – Poder a Qualquer Preço, cujo sumário já está delineado: http://octavioaragao.blogspot.com.br/2012/12/sumario-de-rainha-das-estrelas-poder.html