sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O remédio para a traição - uma cena perdida de Rainha das Estrelas

Interstellar Queen, ilustração de Stewart Cowley. Inspiração
   Quando desenvolvia o plot original de Rainha das Estrelas, em 1986, inspirado entre outras coisas pelas ilustrações de Stewart Cowley, Osmarco Valladão pensou em duas instituições eternamente em guerra: a Coroa, o governo, e o Grupo, uma organização criminosa que controlaria o submundo da sociedade do futuro. Tomei a liberdade de imaginar que seria legal interpretar a situação, no que dizia respeito ao Grupo, como nos primórdios da República Romana, com um triunvirato no topo da pirâmide.

   O que move uma boa história é o conflito, e a palavra-chave para entender o triunvirato romano era traição. Assim, o Grupo tornou-se um ambiente perfeito para os personagens ambíguos de Rainha das Estrelas, um bando de veteranos de guerra, contrabandistas e piratas. Promovi Mamba Mauzh, que era um engenheiro-chefe da tripulação original, a uma das três cabeças do Grupo, deixando-o em rota de colisão com os outros dois sujeitos “simpáticos”, Ronston e o Sátiro. Mamba trata de contrabando, Ronston é responsável por grandes assaltos e o Sátiro é o especialista em... bem, coisas diferentes (que os leitores só descobrirão lendo Rainha das Estrelas - Dias de Sangue na Área Vermelha, publicada pela Editora Draco, na antologia Space Opera 2).

  O texto abaixo, inédito, mostra os motivos pelos quais Mamba vira persona non grata para o que restou do Triunvirato e deixa o escritório confortável para tornar-se um fugitivo tanto do Grupo, quanto da Coroa.   
 
 

    Uma das regras básicas do Grupo postula que os melhores reféns são aqueles que não sobrevivem após o recebimento do resgate. Amélia sabia que não sairia viva.

   O problema, porém, não era ela, isso já estava decidido, mas sim o futuro de Aniri, sua filha. Era pela menina que Amélia precisava trair o único sujeito digno na maior organização criminosa de Ryoh, o que, para início de conversa, já soava contraditório.

     Quando recebeu a primeira mensagem com remetente oculto em seu PorTel avisando que o hospital onde Aniri estava internada sofreria uma ataque à bomba, Amélia pensou que poderia ser um trote. Ainda assim transferiu a menina para uma clínica mais próxima de casa. Quando a Ala Oeste do hospital virou pó, teve certeza que estava perdida.
      
    Dois dias depois do atentado, outras mensagens, aterradoras, chegaram. No mínimo três por dia. Amélia cumpriu as ordens e procurou Mamba Mauzh chorando pela vida da filha presa a uma cama de hospital que não podia pagar (uma mentira deslavada, pois a menina era sustentada pelo pai, ao menos isso o desgraçado fazia). Pediu ao namorado de infância um emprego onde quer que fosse. Claro que ele investigou a história, mas deu com os despistes plantados por seus pares – coisas como fichas médicas adulteradas e planilhas hospitalares falsas – e ofereceu-lhe um emprego como sua secretária. Gastou um tempo explicando o óbvio, que ninguém poderia saber de nada e que, uma vez no Grupo, adeus à vida inocente, para sempre culpado. Ela disse sim.

    Amélia foi perfeita e, em menos de um mês, Mauzh fez dela sua assistente direta. Sabia onde ele estava e organizava a agenda, passando a limpo cada passo, cada ligação, cada contato, enviando relatórios ao fim do dia para seus reais empregadores: os outros membros do Triunvirato.

   Ronston e Confort desconfiavam de Mauzh, não porque passou boa parte da vida como contrabandista, mas por ter sido engenheiro-chefe numa missão em que confraternizou com os soldados de dentes vermelhos da Coroa. Por mais competente e fiel aos ideais do Grupo, havia o receio de uma traição e aplicavam em Mauzh a regra básica número dois.

   A única atitude que previne traições é trair antes.

    Foi por isso que, assim que percebeu a reação de seu chefe à notícia do surgimento de um certo Argos no aeroespaçoporto, Amélia informou imediatamente aos outros dois líderes. Não tinha ideia, entretanto, que fosse algo tão sério a ponto de Ronston e Confort causarem tanta confusão. Mandaram uma tropa de vinte homens para neutralizar Mauzh e seus amigos antes que pudessem arquitetar um plano de resgate.

    Pelo visto, muita gente estava atrás do tal Anton Argos.

3 comentários:

Leonardo Peixoto disse...

Já pensou em escrever sobre a vitória de Donald Trump ?

Octavio Aragão disse...

Nenhum interesse por esse tópico por enquanto, Leonardo. No entanto, também não gosto de vampiros, mas acabei de escrever um conto encomendado sobre esse tema para uma antologia. Logo, não existem temas proibidos.

Octavio Aragão disse...

Nenhum interesse por esse tópico por enquanto, Leonardo. No entanto, também não gosto de vampiros, mas acabei de escrever um conto encomendado sobre esse tema para uma antologia. Logo, não existem temas proibidos.