quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Dois contra a Coroa – uma cena perdida de Rainha das Estrelas


  Anton Argo, o lendário comandante da Rainha das Estrelas, nasceu como uma paródia. Ele era originalmente um capitão Kirk, pegador, esperto, jogador de poker, e herdeiro do nome do capitão Argo, do anime Patrulha Estelar, além de uma referência a Jasão, líder dos Argonautas, o primeiro supergrupo da história da literatura. 

Argo (com “s”): esboço de O. Valladão (1982)

  Exatamente por seu caráter icônico, Argo quase nunca aparece diretamente na primeira história de Rainha das Estrelas, publicada em Space Opera 2. Trata-se de um símbolo, um ídolo inatingível e, como tal, irretratável. Vemos Argo como um fantasma assombrando os outros personagens e, na primeira história, a participação dele, apesar de decisiva e radical, é quase sempre vista de longe. 

  Mas no futuro, Argo voltará. Para mim, Argo é Danton, grande nome da Revolução Francesa, nêmesis de Robespierre (que, no meu entender, é representado pelo coronel Raga, em Rainha das Estrelas). Danton era mulherengo, um político astuto, que negociava com jacobinos e girondinos (e até com a monarquia), um advogado talentoso que também entendia de estratégia econômica.

  O que Argo apronta no cenário de Rainha das Estrelas vai muito além de meramente uma revolução. Ele sedimenta o poder em torno de si próprio, mas sem assumir o papel central, por meio de um estratagema cruel e arriscado. Ele pagará preços altos por sua ousadia, como o Danton de nossa realidade, mas nem por isso desistirá de seus intentos.

  No texto abaixo ele é visto como parte da construção de Mamba Mauzh, mas sua influência é clara e permeia toda a narrativa. E sim, a origem dele, completa, aparecerá em breve.

Influências: mercenários, Danton, Kirk e... Argo

    Anton Argo foi o primeiro amigo de verdade, daqueles que não exigiam nada em troca, mas que também não eram passíveis de manipulação por lisonja. Maury o encontrara algumas vezes e até trocou um dos conversores eólicos de seu autogiro, mas nunca trocaram palavra. Ainda assim, Argo, com sua jaqueta de couro clorado e as botas de cano longo próprias para terrenos inóspitos, parecia conhecer o rapaz e ofereceu ajuda.

     Maury decidiu que não poderia manter o nome de batismo por causa da perseguição da Coroa. Claro que não demoraria para ligarem o rapaz que roubou o motor da máquina da Coroa à mortandade na casa de Francis Rotta. Precisava de outra identidade e o nome parecia óbvio.

    Tornou-se Mamba e foi apresentado ao mundo de Argo, no qual dinheiro era o resultado do somatório de sangue frio, improviso e representação. Para alguém acostumado a depender da lábia, fez carreira contrabandeando de tudo, desde cápsulas de silício das praias do planeta Edo – que diluídas em uma solução especial, eram utilizadas como estupefaciante – até relíquias das Monjas Rubras, como vibradores sagrados e lubrificantes bentos.

    O sobrenome Mauzh, corruptela em uma das línguas antigas do nome do único mamífero que compartilhou a Grande Diáspora com os seres humanos, veio do hábito de armazenar um pouco de tudo que negociava. Cinco por cento de qualquer produto era armazenado nos fundos de um galpão, a primeira de várias Tocas do Rato.

   Em dois anos, as Tocas eram mais de dez e os lucros da dupla Argos-Mauzh acompanhavam o progresso. Sem falar na operação que catapultou a fama da dupla: o assalto ao comboio interestelar de Edo, quando embaralharam as comunicações dos aeroespaçoportos e invadiram cinco cargueiros espaciais, roubando toda a carga de cereais destinada a cinco países de Veracroce debaixo do nariz da Coroa de Ryoh e dos outros governos planetários. Com tantos grãos, nunca o mercado negro foi tão branco.

    Depois disso, no meio da fartura ilegal, Raga apareceu por lá, na Toca original, com uma proposta irrecusável. Também trazia soldados, armas especiais e um bando de prisioneiros, homens de diversas colônias penais de Ryoh e além. Dentre os facínoras, um se destacava pela magreza, a pele muito branca e os óculos especiais.

    Foi assim que Mamba Mauzh conheceu Singapura Sling.

3 comentários:

José Antonio de Oliveira disse...

Aos poucos os personagens vão ganhando contornos mais definidos, vão ficando complexos. Isso está ficando muito legal!

Abraços

Octavio Aragão disse...

Oi, Zé. Para mim, os detalhes de construção de personagens são a cereja desse bolo. Gosto muito de todos eles. E ainda tem mais para vir.

Leonardo Peixoto disse...

Uma vez eu comentei que a presença de ficção alternativa em desenhos animados era algo comum , uma prova disso é essa animação de 1999-2001 onde o detetive mais famoso do mundo resolve mistérios no ainda distante século XXII , http://www.dscartoons.com/2016/03/sherlock-holmes-no-seculo-22.html .