Argo (com “s”): esboço de O. Valladão (1982) |
Exatamente por seu caráter icônico, Argo quase nunca aparece diretamente na primeira história de Rainha das Estrelas, publicada em Space Opera 2. Trata-se de um símbolo, um ídolo inatingível e, como tal, irretratável. Vemos Argo como um fantasma assombrando os outros personagens e, na primeira história, a participação dele, apesar de decisiva e radical, é quase sempre vista de longe.
Mas no futuro, Argo voltará. Para mim, Argo é Danton, grande nome da Revolução Francesa, nêmesis de Robespierre (que, no meu entender, é representado pelo coronel Raga, em Rainha das Estrelas). Danton era mulherengo, um político astuto, que negociava com jacobinos e girondinos (e até com a monarquia), um advogado talentoso que também entendia de estratégia econômica.
O que Argo apronta no cenário de Rainha das Estrelas vai muito além de meramente uma revolução. Ele sedimenta o poder em torno de si próprio, mas sem assumir o papel central, por meio de um estratagema cruel e arriscado. Ele pagará preços altos por sua ousadia, como o Danton de nossa realidade, mas nem por isso desistirá de seus intentos.
No texto abaixo ele é visto como parte da construção de Mamba Mauzh, mas sua influência é clara e permeia toda a narrativa. E sim, a origem dele, completa, aparecerá em breve.
Influências: mercenários, Danton, Kirk e... Argo |
Anton Argo foi o primeiro amigo de verdade, daqueles que não exigiam nada em troca, mas que também não eram passíveis de manipulação por lisonja. Maury o encontrara algumas vezes e até trocou um dos conversores eólicos de seu autogiro, mas nunca trocaram palavra. Ainda assim, Argo, com sua jaqueta de couro clorado e as botas de cano longo próprias para terrenos inóspitos, parecia conhecer o rapaz e ofereceu ajuda.
Maury decidiu que não poderia manter o nome de batismo por causa da perseguição da Coroa. Claro que não demoraria para ligarem o rapaz que roubou o motor da máquina da Coroa à mortandade na casa de Francis Rotta. Precisava de outra identidade e o nome parecia óbvio.
Tornou-se Mamba e foi apresentado ao mundo de Argo, no qual dinheiro era o resultado do somatório de sangue frio, improviso e representação. Para alguém acostumado a depender da lábia, fez carreira contrabandeando de tudo, desde cápsulas de silício das praias do planeta Edo – que diluídas em uma solução especial, eram utilizadas como estupefaciante – até relíquias das Monjas Rubras, como vibradores sagrados e lubrificantes bentos.
O sobrenome Mauzh, corruptela em uma das línguas antigas do nome do único mamífero que compartilhou a Grande Diáspora com os seres humanos, veio do hábito de armazenar um pouco de tudo que negociava. Cinco por cento de qualquer produto era armazenado nos fundos de um galpão, a primeira de várias Tocas do Rato.
Em dois anos, as Tocas eram mais de dez e os lucros da dupla Argos-Mauzh acompanhavam o progresso. Sem falar na operação que catapultou a fama da dupla: o assalto ao comboio interestelar de Edo, quando embaralharam as comunicações dos aeroespaçoportos e invadiram cinco cargueiros espaciais, roubando toda a carga de cereais destinada a cinco países de Veracroce debaixo do nariz da Coroa de Ryoh e dos outros governos planetários. Com tantos grãos, nunca o mercado negro foi tão branco.
Depois disso, no meio da fartura ilegal, Raga apareceu por lá, na Toca original, com uma proposta irrecusável. Também trazia soldados, armas especiais e um bando de prisioneiros, homens de diversas colônias penais de Ryoh e além. Dentre os facínoras, um se destacava pela magreza, a pele muito branca e os óculos especiais.
Foi assim que Mamba Mauzh conheceu Singapura Sling.
3 comentários:
Aos poucos os personagens vão ganhando contornos mais definidos, vão ficando complexos. Isso está ficando muito legal!
Abraços
Oi, Zé. Para mim, os detalhes de construção de personagens são a cereja desse bolo. Gosto muito de todos eles. E ainda tem mais para vir.
Uma vez eu comentei que a presença de ficção alternativa em desenhos animados era algo comum , uma prova disso é essa animação de 1999-2001 onde o detetive mais famoso do mundo resolve mistérios no ainda distante século XXII , http://www.dscartoons.com/2016/03/sherlock-holmes-no-seculo-22.html .
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