Foi uma ideia meio doida.
Nasceu de um comentário que fiz sobre as semelhanças dos traços/estilos de Marsal Alves Branco e Edgar Franco com os artistas franceses Enki Bilal e Philippe Druillet (também citei Watson Portella e sua semelhança estilística com Moebius, mas isso é outra história). Comentei que, com talentos desse naipe, não haveria muita dificuldade em construirmos no Brail uma versão da saudosa Metal Hurlant francesa. Não demorou dois segundos e o Marsal me respondeu “aceitando o convite”, contanto que eu fosse o organizador de uma empreitada dessas. Edgar assinou embaixo e, com o aval desses dois talentos, pensei que, na pior das hipóteses, eu tinha acesso a um material que poderia servir de base para uma “revista em quadrinhos de antologia” como aquelas com as quais crescemos nos anos 70. A gente poderia fazer uma Heavy Metal nacional, mas temática, girando em torno da Intempol, que criei no já longínquo 1998.
Aquela empresa de segurança cronal estava mesmo, perdão pela piadinha, parada no tempo, precisava de sangue novo e algum tipo de atualização. Nestes tempos de remakes e reboots, nada mais natural que fazer uma nova antologia da Intempol, com nomes da velha guarda e novatos, como reza a tradição. Falei com Guilherme Tolomei, então meu editor na Caligari, e recebi carta branca para produzir um álbum formato A4 com 68 páginas e oito histórias. Como um “eco” da antologia de 2000, que contava com 10 autores e oito histórias, convidei Manoel Magalhães, Osmarco Valladão (a dupla que nos deu The Long Yesterday em 2006), Manel Fogo e Carlos Hollanda (meus parceiros em Para Tudo se Acabar na Quarta-Feira e Psicopompo).
Completando o time, chamei Lidiane Cordeiro, Bianca “Tetisuka” Bernardi e Letícia Pusti, cada uma com estilos e histórias completamente diferentes. Tínhamos dois meses para fechar o álbum e saimos todos correndo, conversando, trocando ideias – quase literalmente, unindo os extremos do Brasil, pois Edgar é de Goiás e Letícia mora em Porto Alegre, com os outros se espraiando entre o Espírito Santo e o Rio de Janeiro – e expondo nossa produção uns aos outros enquanto escrevíamos e desenhávamos como loucos. No meio do caminho, Marsal perguntou se poderia publicar sua história na revista holandesa Zone 5200, e, obviamente, dei minha permissão. O resultado não poderia ter sido melhor, pois A Cabine, título do conto gráfico de Mr Marsal, ganhou a capa da edição e a Intempol, consequentemente, ganhou mais uma publicação internacional.
Em novembro, dentro do prazo, o álbum estava pronto, incluindo prefácio de Marcus Ramone, que se tornou um grande amigo nos últimos meses, um baita blurb elogioso de Mark Wheatley, ilustrador e quadrinista que admiro tremendamente, e a cereja do bolo: uma capa absurdamente linda do genial LEO.
Em resumo: a Intempol está de volta, com suas traquitanas, sua irreverência e eventual truculência, mas o sangue, ah, o sangue agora é outro. Os planos são longos e loucos, mas se tudo der certo, vamos adiante até o fim dos tempos.