Jim, herói relutante, homem de ação que não se sentia a vontade no papel de ídolo, era excelente template para o personagem, mas, quando assumi a história, percebi que ele tinha muito dos protagonistas de Alexandre Dumas, um mix de Edmond Dantés, D’Artagnan e Aramis.
Assim, para deslocar a referência direta e imediata, optei por inverter os nomes. Conrad virou nome de batismo, enquanto Lohd tornou-se nome de família, porque, além de uma proximidade gráfica com o termo Lord, a fonética o avizinhava aos nomes afrancesados de Dumas (leio Lohd como Lâ-d, com o h pronunciado como um r aspirado).
Conrad Lohd, infelizmente, quase desapareceu na versão impressa de Rainha das Estrelas, mas no trecho a seguir conhecemos um pouco de seu passado, pecados e caráter multifacetado. Como todo bom herói de Dumas, Lohd é movido por paixões variadas, nem todas dignas de admiração, mas, como Lord Jim, em momento algum deixa que isso macule a percepção de seu papel do mundo.
Lord Jim, Conde de Monte Cristo e Aramis, bases para Conrad Lohd |
Conrad Lohd era um piloto excelente, mas não teve paciência de construir uma carreira militar na Academia da Coroa. Aos doze anos, sob o olhar complacente do pai, talentoso comandante da força aérea, assumiu o manche de um velho supersônico e realizou um pouso perfeito do ponto de vista técnico. Foi o que o estragou para sempre.
Passou boa parte da vida escolar em detenção por fugir do internato para noites de bebedeira. Depois de várias tentativas, uma noite, com a ajuda de dois colegas, roubou um hipersônico durante a madrugada. O barulho da decolagem alertou a todos e logo o jovem Lohd recebia ordens para voltar à base.
A barreira do som foi a primeira de várias coisas rompidas naquela madrugada. Ao retornar, Lohd calculou mal a velocidade e desceu os trens de pouso muito tarde. Sem as rodas, a aeronave bateu com a barriga na pista e deslizou a 300 km/h, quebrando a asa direita e desviando em direcção à torre de controle. Em defesa de Lohd, pode-se dizer que ele tomou todas as atitudes recomendadas em situações desse tipo, manobrando os flaps e segurando o avião no manche, mas a ausência dos cabos de aço que, em situação normal estariam estendidos na pista, impediu que o gancho de segurança localizado na parte traseira da aeronave reduzisse a velocidade.
O resultado foi contado em trinta corpos carbonizados, incluindo três de seus instrutores e o velho comandante Lohd, que foi chamado para tentar trazer o filho à razão. O menino de 14 anos foi preso, julgado e condenado.
Houve quem exigisse a morte, mas a mãe levou o julgamento às massas, transformando-o num show, alugando e ocupando diversos espaços na OmniWeb e forçando a revisão da sentença. Conrad Lohd, assim como aconteceria depois com Ockham da Casa de Erin, virou um ícone midiático. Transformou-se em ídolo popular graças às hordas adolescentes bombardeando todos os meios de comunicação com vírus intitulados Salvem Nosso Lohd.
Com a sentença comutada para banimento, Conrad Lohd mudou-se para a Área Amarela, mas com muito mais conforto que qualquer outro exilado. Um apartamento amplo no vigésimo andar de uma torre com vista para o belo Parque Rômulus, que ainda guardava alguma flora pré-colonização.
Lohd teve uma boa vida durante quatro anos até que a morte de sua mãe acabou com o dinheiro. A necessidade de cobrir seus gastos com mulheres e autogiros fez com que voltasse à paixão original e passou a oferecer serviços de carga e transporte para quem pagasse melhor. Cinco missões arriscadas, do tipo que ninguém aceitaria, foram o suficiente para chamar a atenção de Anton Argo, que montava uma equipe para efetuar ataques cirúrgicos a cargueiros da Coroa. Foi o convite que definiu a escolha da nova carreira de Conrad Lohd.
O filho proscrito da Classe Dominante tornou-se um dos famosos piratas de Ryoh.
Lohd, num estudo rápido a pincel, por Octavio Aragão |
7 comentários:
Mais um texto inspirado e inspirador!
Infelizmente, Zé, os textos estão acabando. Creio que teremos só mais três, mas está dando uma satisfação danada postar esses excertos no blog. Depois é atacar o... romance de Rainha das Estrelas.
Você já pensou em escrever sobre os universos alternativos dos quadrinhos ?
Como assim, Leonardo? Como um artigo?
Exatamente !
É que já existem alguns, para não dizer muitos. Seria interessante se o foco fosse mais fechado em um estilo específico de Realidade Alternativa, mas tenho muitos artigos na fila de espera.
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