quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O Proscrito - uma cena perdida de Rainha das Estrelas

    Alguns personagens de Rainha das Estrelas sofreram mudanças estéticas, psicológicas ou, em um caso específico, gráficas. Originalmente, Conrad Lohd, o talentoso filho rebelde de um oficial da Coroa, chamava-se Lord Conrad. Tratava-se, como se pode perceber, de homenagem de Osmarco Valladão ao escritor Joseph Conrad e seu mais famoso personagem, Lord Jim.

    Jim, herói relutante, homem de ação que não se sentia a vontade no papel de ídolo, era excelente template para o personagem, mas, quando assumi a história, percebi que ele tinha muito dos protagonistas de Alexandre Dumas, um mix de Edmond Dantés, D’Artagnan e Aramis.

    Assim, para deslocar a referência direta e imediata, optei por inverter os nomes. Conrad virou nome de batismo, enquanto Lohd tornou-se nome de família, porque, além de uma proximidade gráfica com o termo
Lord,  a fonética o avizinhava aos nomes afrancesados de Dumas (leio Lohd como Lâ-d, com o h pronunciado como um r aspirado).

    Conrad Lohd, infelizmente, quase desapareceu na versão impressa de
Rainha das Estrelas, mas no trecho a seguir conhecemos um pouco de seu passado, pecados e caráter multifacetado. Como todo bom herói de Dumas, Lohd é movido por paixões variadas, nem todas dignas de admiração, mas, como Lord Jim, em momento algum deixa que isso macule a percepção de seu papel do mundo.

Lord Jim, Conde de Monte Cristo e Aramis, bases para Conrad Lohd

    Conrad Lohd era um piloto excelente, mas não teve paciência de construir uma carreira militar na Academia da Coroa. Aos doze anos, sob o olhar complacente do pai, talentoso comandante da força aérea, assumiu o manche de um velho supersônico e realizou um pouso perfeito do ponto de vista técnico. Foi o que o estragou para sempre.

    Passou boa parte da vida escolar em detenção por fugir do internato para noites de bebedeira. Depois de várias tentativas, uma noite, com a ajuda de dois colegas, roubou um hipersônico durante a madrugada. O barulho da decolagem alertou a todos e logo o jovem Lohd recebia ordens para voltar à base.

    A barreira do som foi a primeira de várias coisas rompidas naquela madrugada. Ao retornar, Lohd calculou mal a velocidade e desceu os trens de pouso muito tarde. Sem as rodas, a aeronave bateu com a barriga na pista e deslizou a 300 km/h, quebrando a asa direita e desviando em direcção à torre de controle. Em defesa de Lohd, pode-se dizer que ele tomou todas as atitudes recomendadas em situações desse tipo, manobrando os flaps e segurando o avião no manche, mas a ausência dos cabos de aço que, em situação normal estariam estendidos na pista, impediu que o gancho de segurança localizado na parte traseira da aeronave reduzisse a velocidade.

    O resultado foi contado em trinta corpos carbonizados, incluindo três de seus instrutores e o velho comandante Lohd, que foi chamado para tentar trazer o filho à razão. O menino de 14 anos foi preso, julgado e condenado.

    Houve quem exigisse a morte, mas a mãe levou o julgamento às massas, transformando-o num show, alugando e ocupando diversos espaços na OmniWeb e forçando a revisão da sentença. Conrad Lohd, assim como aconteceria depois com Ockham da Casa de Erin, virou um ícone midiático. Transformou-se em ídolo popular graças às hordas adolescentes bombardeando todos os meios de comunicação com vírus intitulados Salvem Nosso Lohd.

    Com a sentença comutada para banimento, Conrad Lohd mudou-se para a Área Amarela, mas com muito mais conforto que qualquer outro exilado. Um apartamento amplo no vigésimo andar de uma torre com vista para o belo Parque Rômulus, que ainda guardava alguma flora pré-colonização.

    Lohd teve uma boa vida durante quatro anos até que a morte de sua mãe acabou com o dinheiro. A necessidade de cobrir seus gastos com mulheres e autogiros fez com que voltasse à paixão original e passou a oferecer serviços de carga e transporte para quem pagasse melhor. Cinco missões arriscadas, do tipo que ninguém aceitaria, foram o suficiente para chamar a atenção de Anton Argo, que montava uma equipe para efetuar ataques cirúrgicos a cargueiros da Coroa. Foi o convite que definiu a escolha da nova carreira de Conrad Lohd.

    O filho proscrito da Classe Dominante tornou-se um dos famosos piratas de Ryoh.

Lohd, num estudo rápido a pincel, por Octavio Aragão

7 comentários:

José Antonio de Oliveira disse...

Mais um texto inspirado e inspirador!

José Antonio de Oliveira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Octavio Aragão disse...

Infelizmente, Zé, os textos estão acabando. Creio que teremos só mais três, mas está dando uma satisfação danada postar esses excertos no blog. Depois é atacar o... romance de Rainha das Estrelas.

Leonardo Peixoto disse...

Você já pensou em escrever sobre os universos alternativos dos quadrinhos ?

Octavio Aragão disse...

Como assim, Leonardo? Como um artigo?

Leonardo Peixoto disse...

Exatamente !

Octavio Aragão disse...

É que já existem alguns, para não dizer muitos. Seria interessante se o foco fosse mais fechado em um estilo específico de Realidade Alternativa, mas tenho muitos artigos na fila de espera.