sexta-feira, 5 de setembro de 2014

As (quase infinitas) possibilidades dos quadrinhos

Se me perguntassem qual tema tem sido mais constante entre meus orientandos de graduação, o termo que viria em primeiro lugar, com larga vantagem para o segundo, seria “jornalismo em quadrinhos”.

A influência de Joe Sacco, o papa dos jornalistas quadrinistas, autor de Palestina e Gorazde, e de Marjane Satrapi, autora do icônico álbum biográfico Persépolis, parece inesgotável nos jovens estudiosos da nona arte (mas não era a oitava? O que terá acontecido desde 1984, quando os alunos da EBA - UFRJ lançaram o fanzine de quadrinhos Arte 8? Esses quadrinhos vivem levando banda). Os já clássicos Will Eisner e Art Spiegelmann também são bem cotados, mas ninguém mais parece interessado em basear suas pesquisas em Um Contrato Com Deus ou Maus, talvez por já terem se tornado obviedades muito referendadas – na verdade, pode ser que devessem ser lidas com maior atenção, indo além das qualidades pioneiras, mas isso já é outro post – ou mesmo Robert Crumb, muito ligado a um recorte tempo-cultural específico dos anos 60.

O fato é que, diante dessas aparentemente novas alternativas para o uso da narrativa em quadrinhos, os pesquisadores e alguns profissionais da ilustração tem arregaçado as mangas não mais sujas de nanquim procurado diferentes formas de expressão, algumas vezes esbarrando em construções que, se não absolutamente originais, ao menos demonstram um entusiasmo contagiante.

Esse é o caso dos panfletos romântico-sócio-idealistas das Pocket Comix, de Renato Lima. Mantendo o diálogo com um público majoritariamente feminino na faixa dos vinte e poucos anos, Lima retrata, em quadros únicos que mesclam narrativas com múltiplos desenhos de estilo urgente, baseado em grafite e Photoshop, e textos em legendas que criam um certo distanciamento poético, não apenas o ambiente urbano onde essas pessoas habitam, como seus dilemas emocionais, e se aproxima dos leitores usando as redes sociais como plataforma.

A resposta das Pocket Comix tem sido massiva a ponto do projeto ser indicado ao HQ Mix de 2014, na categoria Web Quadrinho.

A narrativa emocional, onírica e social das Pocket Comix

Mas um experimento diferente foi tentado pelo ilustrador e quadrinista pelotense Fábio Ochôa quando divulgou sua até agora única resenha literária em quadrinhos. Usando um estilo solto, a pincel, e abusando de elementos metalinguísticos, Ochôa analisou de maneira criativa e opiniática o romance O Fortim, de F. Paul Wilson, mesclando suas impressões de pontos representativos da história, tais como retratos dos personagens e cenas climáticas, tudo sem perder o humor corrosivo e a objetividade.

O quadrinista disseca o romance em seis páginas de quadrinhos rápidos cuja força e originalidade são resultado direto da velocidade perceptível com que o material foi produzido, mas nem por isso descuida da qualidade narrativa, variando as técnicas diagramáticas, às vezes dividindo uma página em 12 quadros, ou deixando as figuras soltas, sem um cenário, mas cercadas por textos que, sem restrições, voam como nuvens de insetos ou surgem em balões, criando uma leitura “em camadas”. Ora o texto representa diálogos do narrador com eventuais interlocutores, ora descreve as opiniões do crítico em primeira pessoa.

A resenha crítico-humorística de Fábio Ochoa


Pena que Ochôa não tenha dado continuidade a esse estilo de resenha. Acredito que, obedecendo à máxima que reza que toda crítica acrescenta significado e importância ao objeto, muitas obras se beneficiariam de tais análises, independente de suas qualidades intrínsecas. Eu compraria um livro de críticas literárias em quadrinhos feito por ele e usaria em sala de aula.

Um comentário:

Leonardo Peixoto disse...

Com a vitória de Donald Trump na eleição presidencial americana , ficou popular o cenário dos Estados Unidos estarem dominados por uma ditadura . Esse cenário é usado nesse filme de 1968 , https://www.youtube.com/watch?v=jCxX0y1aqGA .