terça-feira, 21 de outubro de 2014

Sobre prêmios e premissas



Argos, infantes, arte e artesanato 
Desde julho tenho sido soterrado por novidades, convites, novas ideias e projetos diversos. Mesmo aqueles que não funcionaram como o esperado geraram novos frutos, cada um colaborando para sedimentar uma teoria que acalento há décadas. É o seguinte: sabe aqueles trabalhos que você faz por amor, sem esperar nada em troca e que geram expressões de espanto e afirmações do tipo “não sei como você vai ganhar dinheiro com isso”? Pois é, pode demorar, mas eles retornam como títulos, dinheiro e, algumas vezes, prêmios.

Um dos trabalhos mais divertidos dos últimos anos foi participar como jurado do 59º Prêmio Esso de Jornalismo, analisando dezenas de projetos de todo o Brasil, incluindo diagramação, ilustração e infografia, nas categorias de Criação Gráfica para jornais e revistas. Se no ano passado foi uma honra participar da comissão da 10ª Bienal Brasileira de Design Gráfico, considero ter sido convidado para comissão julgadora do Prêmio Esso 2014 a coroação de 27 anos de carreira como designer.

Mas o melhor ainda estava por vir. Em 2013, a Editora Buriti me perguntou se eu não gostaria de colaborar com um conto curto para uma de suas antologias temáticas de fantasia chamada Caçadores de Bruxas. Como estava apertadíssimo, envolvido com as tradicionais 200 tarefas simultâneas, pensei que deveria vasculhar a velha gaveta mental em busca de uma memória empoeirada. Encontrei um conceito aproveitável num cantinho cheio de teias de aranha, local apropriado para bruxas e demais criaturas.

Era um mix inusitado entre feitiçaria e fotografia, que datava de minha adolescência e que ganhou forma durante a época de faculdade, adequando a velha superstição da captura da alma pela reprodução da imagem. A reescritura da história, cujo título sempre foi Viragem, fazendo alusão à arte de colorir fotos em preto e branco com sépia ou azul, foi tão rápida quanto agradável e me deu a oportunidade de brincar com conceitos que eu mal conhecia na época, como semiótica e geomancia. O resultado foram nove páginas e 1/4, muito pouco para estes tempos de tetralogias de mil páginas, mas o conto foi publicado.

Tentando ignorar os erros de revisão
Qual não foi minha surpresa ao, um ano depois, receber a informação que esse conto de certa forma ingênuo e freudiano sobre a impotência, e consequente inveja, dos homens diante das mulheres absurdamente impactantes – cunhando um termo que gosto de chamar de “inveja da vagina” – tinha sido selecionado como finalista do Prêmio Argos, o único dedicado à literatura de gênero fantástico no Brasil.

Jamais passou por minha cabeça que levasse o prêmio, principalmente porque a concorrência era avassaladora: o finalista do Prêmio Nebula, Christopher Kastensmidt, o talentoso Carlos Orsi, a saudosa Maria Helena Bandeira, a dupla competente formada por Luiz Felipe Vasques e Daniel Bezerra, e o recém-chegado A. Z. Cordenonsi, todos com trabalhos (bem) maiores que o meu. Compareci ao Planetário da Gávea acompanhado de meu filho mais velho, Pedro Henrique, e essa foi a melhor decisão que tomei no dia, pois a expressão dele ao ouvir meu nome como vencedor foi o melhor dos presentes.

Agora o Argos para Melhor Conto de 2014 está aqui, em minha sala, com todo o destaque que merece. Porque posso até me surpreender com a vitória, mas gosto de acreditar que às vezes, mesmo contra todas as premissas, o resultado despretensioso da imaginação do adolescente merece o respeito e o reconhecimento do homem de cinquenta anos.

(ATUALIZAÇÃO) Esqueci de dizer que meu romance Reis de Todos os Mundos Possíveis também estava concorrendo como Melhor Romance, mas perdi – com justiça – para o amigo Fábio M. Barreto e sua história de FC pós-apocalítica Filhos do Fim do Mundo.

Um comentário:

Leonardo Peixoto disse...

Eu já tinha falado antes sobre o reboot de Thunderbirds exibido pelo Gloob , espero que esses vídeos atestem a qualidade da série , https://www.youtube.com/playlist?list=PL8w4r7LqksABQYdqdhOa402DZlHVPQqO_ .